domingo, 24 de fevereiro de 2008

HISTÓRIA DeVIDA

Ela chegou a casa ao fim de mais um dia de trabalho. Bateu a porta atrás de si, acendeu as luzes, atirou a pasta para cima do sofá, descalçou os sapatos de salto alto que combinavam com o seu taier clássico e dirigiu-se à cozinha. Abriu o frigorífico, encheu um copo de leite e bebeu-lhe um trago.
Foi até ao quarto, atirou-se para cima da cama, fixou os olhos no tecto e tentou descontrair.
Mais um dia passara. Mais umas decisões tomara, mais uns objectivos cumprira, mais algumas estratégias definira, ... para que nenhum cliente pudesse inventar defeitos.
Tinha fama de ser uma excelente profissional. Todos admiravam a sua competência, vivendo rodeada de telefonemas, solicitações, almoços, jantares de trabalho, reuniões urgentes. Os seus pareceres técnicos eram pagos a peso de ouro. A sua agenda preenchida até ao último minuto... Mas voltava sempre para casa só e só ficava até ao dia seguinte o despertador tocar e mergulhar de novo na vida.
Nunca pensava muito nisso. Mas hoje era uma noite muito especial.
Hoje era a noite em que ninguém queria ficar só. Hoje era a noite em que ninguém ia sair com ela por mais números de telefone que marcasse percorrendo a sua agenda de A a Z. Hoje ia ficar só. Tristemente só.
Sentiu uma lágrima percorrer-lhe o rosto e para não sentir as outras que teimavam em saltar, levantou-se bruscamente e foi até à sala.
Olhou o pinheiro enfeitado e acendeu-lhe as luzes, dando-lhe uma nova vida... sorriu. Afinal, hoje era a noite de fim de ano, merecia um pouco de cor, brilho e alegria apesar de não ter ninguém com quem a partilhar.
Mas será que não tinha mesmo?
Subitamente foi até ao outro canto da sala, ligou o computador, ... e aquela maravilhosa ADSL que lhe trazia o mundo e lhe permitia o sonho.
Sentou-se à frente do écran colorido e bastaram-lhe alguns segundos para digitar username, password e entrar num universo virtual.
Ansiosamente conectou um server de IRC e entrou num qualquer canal em busca de alguém que a pudesse conter nessa solidão imensa que sentia. Olhou para todos os nicks presentes no canal, respirou fundo e com a certeza de ser ouvida pelo menos por um deles, teclou sem hesitar: “Olá, eu sou a Sweet e esta noite não quero ficar só”.
Imediatamente uma janela abriu-se no seu monitor e ela sentiu o coração bater mais forte ao ler a mensagem: “Olá, eu sou o Frog e esta noite também não quero ficar só”.
Ela sorriu e se espelhou aliviada.
Pelo menos este ano teria alguém com quem partilhar a última noite do ano e brindar a chegada do novo...

Teresa Paula Diniz

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